Da microescala à macroprática: microbioma, literacia, prática clínica e segurança

Autores

  • Andrea Ribeiro Autor

DOI:

https://doi.org/10.71399/d47m1d17

Resumo

É com enorme satisfação que apresentamos esta edição da TER ISAVE, dedicada ao mote “Da Microescala à Macroprática: microbioma, literacia, prática clínica e segurança”. O conjunto de trabalhos aqui reunidos espelha a pluralidade e a coerência de uma visão integrada da saúde: da biologia invisível que nos habita, aos comportamentos informados que a moldam, passando pela intervenção terapêutica ancorada na melhor evidência e pela segurança do doente como princípio estruturante.

Abrimos com duas investigações de fisioterapia que ilustram a exigência metodológica aplicada a perguntas aparentemente simples, mas clinicamente relevantes. Lumini et al.  exploram os efeitos do Dynamic Tape nos gastrocnémios sobre o desempenho no squat jump num ensaio piloto quase-experimental. Para lá do resultado imediato, este estudo lembra-nos a importância de testar, com instrumentos válidos e protocolos rigorosos, hipóteses amplamente difundidas na prática desportiva. Na mesma linha de avaliação rigorosa, Ribeiro et al.  apresentam um estudo-piloto sobre Wii™ e prevenção de quedas, discutindo o papel dos exergames na melhoria do equilíbrio em pessoas idosas. Numa população em rápido envelhecimento, pensar na motivação, na adesão e no impacto funcional de intervenções acessíveis é mais do que oportuno — é necessário.

A literacia em saúde surge como eixo transversal. Macedo et al.  analisam o conhecimento sobre incontinência urinária em mulheres praticantes de Pilates clínico, revelando como a informação correta — e a sua tradução em comportamento — pode transformar resultados e reduzir o estigma. A mesma lógica “da micro à macro” atravessa os dois trabalhos de Gonçalves et al.  sobre o microbioma do sistema genital feminino. Ao aproximar ecologia microbiana e literacia em saúde, estes artigos mostram que não há boa prática clínica sem compreensão dos ecossistemas biológicos e sem capacitação das pessoas para tomarem decisões informadas.

A segurança do doente, pilar ético e organizacional, é convocada por duas contribuições na interface entre clínica e gestão dos cuidados. Domingues et al.  investigam os cuidados de prevenção em idosos diabéticos em estruturas residenciais, lembrando que a qualidade em saúde depende de processos sustentados, interdisciplinares e culturalmente sensíveis. No n.º 14, os mesmos autores exploram as falhas de comunicação nas passagens de turno de enfermagem, um tema tão invisível quanto determinante. Se o microbioma nos ensina que micro-interações geram macrorrespostas, a segurança clínica confirma que pequenas falhas geram grandes riscos — e que boas rotinas de comunicação salvam vidas.

Em curso de revisão, Pereira de Abreu apresenta uma scoping review sobre ferramentas de avaliação e estratégias de intervenção fisioterapêuticas na criança com Ataxia-Telangiectasia. Trata-se de um contributo valioso para um domínio onde a evidência é naturalmente escassa e a necessidade de síntese é crítica para orientar decisões.

Do ponto de vista editorial, esta edição reflete também a evolução da nossa revista.

Agradecemos às autoras e autores pela confiança e pelo rigor; às revisoras e revisores pela exigência crítica e contributos construtivos; e às equipas técnicas pela atenção ao detalhe que permite que a ciência chegue, legível e útil, a quem dela precisa.

Reiteramos o convite à comunidade: submetam trabalhos originais, revisões, estudos de implementação e relatórios de prática. Valorizamos metodologias robustas, perguntas clinicamente relevantes e a coragem de publicar resultados “negativos” — tão essenciais quanto os positivos para a maturidade de qualquer campo.

Da microescala do microbioma à macroprática da segurança do doente, passando pela literacia e pela intervenção clínica baseada na evidência, esta edição reafirma a missão da TER ISAVE: ser um espaço de encontro entre ciência, prática e sociedade. Que a leitura inspire novas perguntas, melhores respostas e, sobretudo, melhores cuidados.

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Publicado

28-09-2025

Como Citar

Da microescala à macroprática: microbioma, literacia, prática clínica e segurança. (2025). TER ISAVE Investigação E Inovação Em Saúde, 4(2). https://doi.org/10.71399/d47m1d17